terça-feira, 23 de dezembro de 2008

caderno de sonhos

Escrevo nas páginas da agenda
nos dias que se foram, sobre uma vida
que sonhei. E sonho.

Páginas em branco de dias perdidos.

No “hoje” procedimentos ridículos
eis minha vida
É o que faço
Um placebo que livra a recriminação.

Então sou aceito
sou comum
Moro numa caixa
e formo meus seis lados.

Jogado ao acaso
que escolhe meu movimento
Eu decido uma ação
tenho a escolha: de 1 a 6.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Altar meu

..... ..... .....Procuro o espelho para que eu possa ser julgado.
..... ..... .....Correndo adiante da traça,
..... ..... .....que candura a triste simbologia da vida em uma
..... ..... .....maré mansa de sofrimentos aceitáveis.
..... .....Não encontro o Senhor Anchieta, ou o Soreval,
..... .....tampouco o Senhor Lieshout.
..... .....Deparo-me com criaturas talhadas em tronco de carvalho.
..... .....Estou diante dessa estirpe e não enxergo os meus olhos.
.....Careço refletir minha composição;
.....ver o que há por detrás dessa distorção do
.....mundo que criei ciente de que não sou deus.

domingo, 19 de outubro de 2008

Valsa de um só – parte 4

Não vejo mais a poesia
Derradeiro breve tornado eterno
Fez-se o fim da valsa.
O rosto pintado da donzela
não encontro
Estava de costas
em direção a porta
Sem dizer adeus.

O que era o silêncio além do que sou?

No salão
Eu
rodeado pelo vazio
Combalido pela nova campanha.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Valsa de um só - parte 3

Ela que me fez ver a composição completa da valsa
Eu que fiz o sentimento sujo digno de um verso
Eu que a sinto colada em meu dorso

Aconchego

Aos meus olhos a redoma do salão
Que deteriora-se no espanto
De quem não vinha
E agora governa o que outrora fora nada.

Ganho o som a embalar o movimento
Tenho-a no embaraço de repente rompido
Somos o espetáculo sob nossa regência.

domingo, 28 de setembro de 2008

Valsa de um só – parte 2

Descarto a solidão
Para ao solo voltar
Com pés descalços
Meus sapatos gastos
O chão frio
Hei de pisar.

O olhar convidativo
Busco a donzela de rosto pintado
Que me fez dançarino.

domingo, 21 de setembro de 2008

Valsa de um só – parte 1

Eu a vi dançar a noite toda
Com seu vestido roubado
De barra ruída.

Sorriso apertado
Em sua cara pintada
A lembrar o amor que o deus levou
Deixando o homem a buscar
O que nunca sentiu.

domingo, 14 de setembro de 2008

Jogando fora a paciência

Eu te coloco no colo
Para te sentir meu
Engano seus olhos
Com devaneios que conduzo na frente
E não dou curva.

Peço desculpas
Por não tentar errar
E somente conservar o bem
Meu... e para ti.

Sou fugaz
Eu sei!
O meu rabo empinado
Reflete apenas meu nariz
Que anda lá no alto.

Estou longe
Sinto raiva
Pela distância
Que tu exiges.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Adeus: em quatro atos

I.

Coisas da vida
Tais não sabem explicar.

Devido ao sentido divino
São únicas
Ao arregaçarem um sentimento
Que somente elas podem tocar.


II.

Eu te busco em meio ao jardim
Não sei histórias a contar para dormires
Ao meu lado bem
Não és de ninguém, unicamente minha.


III.

Por fim
acordo só
Em lá menor
faço covardia
Mascaro a noite
intrépida
Uma lembrança
vazia.


IV.

Terra molhada
Sinto o cheiro da volta
Do meu aguaceiro
Tão desgovernado.

Eu te ganho em aposta
Sou o seu pecado
Ilumino a noite
Com olhar desconfiado.

O que me resta é saber aonde vais
Tenho o que me agrada
Na lembrança
Um leva e trás.

Eu a imagino só
Tão moribunda a nós
E fico astuto
Com sentimento arregaçado.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

No ônibus

Não me vejo
no reflexo
No vidro
Espelho coletivo.

Contemplo cabeças
a espera
Da passagem
de mais um
Alento
do movimento.

Envolto a iguais
Não
os comprimento
Ouço
seus lamentos.

Cheiro
pinche molhado
Por fim
me enxergo
Fechei a janela
Os céus tombaram.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

café com torta

eu posso viver uma vida barata
usando ricota na salada.

o terraço encharcado
entorpece o cansaço
eu toco minha euforia.

mas o que me importa
é quem trará o café com torta
morangos, amoras
e suas irmãs vermelhas.

bateram à porta do meu apartamento
fui atender
não havia bandeja
só mais uma carta de despejo

eu esperava por você.

terça-feira, 27 de maio de 2008

pano branco

eu não agrado
como te agradam os panos
os panos que cobrem o cadáver
seu bem amado que fechou os olhos.

por três vezes oscilo
entre fechar e abrir
na quarta eu desabo
agarro a gota que desce a face.

tu segues em rumo
com as costas para o norte
eu não despojo palavras
cuspo olhares.

amor eterno
só com um dos amantes morto.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Sapatos verdes

Nas mãos os sapatos verdes
Que vestiam seus pés
Hoje desabitados.

As solas descalças
Por onde andarão?
O corpo que as sobrepõem
Onde habitará?

Meu anjo levado
Pela vida
Pelo o que agora sorri?

Eu choro.

Estou ausente a ti
Pois viraste lembrança.




“Meu bem,
Por onde escondes minha dor?
Eu te peço em clamor
Volte logo
E me diga adeus”

V.Q. 2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

Meu labor: uma esquina poética

Moro lá em cima


Cada suspiro é o desejo de uma vida nova.

Aguardo na e
..............s
..............q
..............u
..............i
..............n
..............a

Laboro meu pão com gemido nobre.

sábado, 26 de abril de 2008

No guarda-roupas as espadas

Guardei as espadas.
Nunca fui de vingança! Contudo, choro a perda, que um sentido não sei dar.

Buscava as espadas
Para devolver as palavras perjuradas
Na boca da foice
Mas não era coragem, era medo.

Permaneci estático
Admirando o sentimento
Somente eu e o ódio
Meu eterno companheiro infeliz.

domingo, 20 de abril de 2008

Uma conversa e F. da Luz

Encontro-me com a certeza de que um objeto causa toda uma diferença na peregrinação da vida. Eu me sinto um maestro dela; tornar todas as artes parte do ser estrutura-se como um estigma para minha constituição.

Na execução de uma seqüência de tarefas, com o uso dos objetos transgressores do comportamento, a preguiça agarra toda uma vontade, sucumbindo à conclusão no entreposto da alegria do começo com o tédio do percurso término.


*Um boteco e F. da Luz*
O comentário feito


Eu já fiz curso de inglês, curso de francês, aulas de canto, curso de violão, curso de pandeiro, aulas de berimbal, aulas de palhaço, curso de desenho artístico, curso de cinema. Nunca concluí nada!

Nunca me tornei um especialista. Talvez eu seja isso mesmo: um mero degustador da vida.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sereia em tecidos vermelhos

Não era a areia. Não era a praia. Não era a água. Não era o sal. Não era o mar. Era o suspirar calejado da felicidade familiar.

Estávamos todos ali. Eu. O papai. A mamãe. A tia Belie. A prima Dora. Papai. Belie. A prima. Nós e a caixa térmica vermelha. Ela, que tão suplentemente protege do ambiente, mas não dos sedentos, as gélidas cervejas. Podia sentir. Via o gelo coberto pelo sol, fragmentando suas partículas, em uma bela valsa meticulosa.
Estávamos felizes. Éramos felizes. O engasgar me tomou. O sol agora era roxo, num limiar para o padecer diário. Margeava a vontade da distância. Só. Somente eu e ele. Mas só. A agonia resgata o ser. Tentei fugir. Tentei ser feliz. Mas a vontade era minha e a ela eu sabia calar.

Eis a areia. Eis os pés. Fez-se o andar e o ser se foi. Eis o mar. E os pés de ásperos passam a úmidos. O quente abarcar das águas atlânticas fez seu trabalho, polindo com seu tempero as solas de quem queria só uma conversa. Cá estávamos nós. Apenas eu e ele. O mar. A cobiça vigorou.

Permaneço no raso. Dos calcanhares sobe a procissão dos respingos salobros. Sinto a ânsia de mais um passo. Resguardo dez quinze avos da minha existência no oceano de ar. Mas o passo foi dado. E do tornozelo o mar - solícito como o temos - tragou toda a minha composição. Queria apenas uma conversa. E do mar fiz parte. Às suas entranhas eu era puxado. Guiava todo o meu entusiasmo para voltar a somente ouvi-lo e admirá-lo. Estava só. E ele me queria. Pronto para me entregar surge à imagem.

Primeiro vi uma rajada de cabelos negros a embaraçar tudo em volta. O resto do suntuoso corpo veio em seguida. Tudo era não identificável; uma harmoniosa baderna da bela. Constatei seus trajes rubros. Eu a vi por completo. Estava só. Eu, ele e ela. A imagem. Uma sereia em tecidos vermelhos.
O fôlego para voltar à tona despiu-se de seu olhar confuso. Encontrei o extrato da terra e no embate do ar com os pulmões pude sentir a delicada dor de viver. Estava feliz. Estávamos ali. Eu e ela regados por ele.

Não conseguia encará-la. Feliz. A idéia partiu dela. Geniosa como se apresenta, eu não quis refutar. “Temos que nivelar o mar”. A proposta se fez. E com o galho, que perpendicularmente transpassou defronte nossos corpos, eu me pus a empurrar os lotes de areia para a concavidade do mar. Um ferrenho esforço. Contemplava a felicidade.
O alerta partiu dela. Não compreendi. Estava vivo? “A ponta do galho está vibrando”. Fiquei confuso. Estava só. Eu e o galho.

Abri os olhos. Olhei o teto. Estava na cama. Onde se encontrava a ponta do galho estava meu celular a tocar. Não era ela. Não era a moça dos tecidos rubros. Estava só. Eu e as lembranças.