quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Despretensiosa análise de fragmento da obra platônica

“Amigos, regremos tudo de modo que possamos beber agradavelmente e que só nos faça bem!” (Banquete, Platão)

Visto o meu ínfimo conhecimento teórico quanto à análise filosófica do texto de Platão, tenho em mente a magnífica simbologia que o mestre utiliza em sua obra.
No trecho acima Pausânias propõe aos convivas regrarem a embriaguez, no sentido em que, no banquete realizado na casa de Agáton, se fará alocuções acerca do tema proposto: o amor.

Embriagado o indivíduo afasta-se da realidade. Análogo, temos o impulsionar filosófico; a proposta de um distanciamento do mundo real, para deixarmos o artefato em análise falar por si só.

Quando Platão propõe uma embriaguez ponderada, ele nos entrega um método de distanciamento da realidade para o estudo filosófico ainda conexo com o real. Demonstrando a Filosofia como uma prática utilitária na dinâmica homem-mundo.

Uma lenda árabe qualifica a embriaguez em três estágios. Inicialmente a fase do macaco, onde o indivíduo torna-se falante, agitado, com um grau de entusiasmo não imaginável por ele sóbrio; ao mesmo tempo encontra-se consciente de seus atos, contraindo uma eloqüência, atingindo altos coeficientes de persuasão. Comboiada temos a fase do leão, donde o embriagado torna-se nocivo – levando em consideração o caráter da pessoa –, prestativo, obrando irrefletidamente de forma violenta. Em última fase, a do porco, o embebedado é tocado pelo sono ou coma, a completa embriaguez.

“Confesso, quanto a mim, que ainda me encontro sob incômodos oriundos do banquete de ontem, e o mesmo, creio, cada um de vós poderíeis repetir, porque todos estivestes ontem presentes. Deliberai, pois, como devemos beber, para que disso não nos advenha nenhum novo mal!” (Banquete, Platão)

Neste outro fragmento, vislumbro Platão assinalar que o distanciamento intenso deixa-nos perdidos, suscitando o cansaço e uma única certeza: que não chegamos a lugar algum.

O tão esquadrinhado Mundo das Idéias não está nada além do que aqui! Em nossa realidade, nas coisas que não percebemos. Por isso um distanciamento ponderado, para metodicamente avançar ao desconhecido, que é somente parte da realidade adormecida.

Advindo do mito árabe, que sejamos macacos! Aqueles que com algazarra perpetrem o “calado” a falar. Admitindo a realidade em sua essência, não em sua pura expressão.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Primeiro passo

Constrangido e inadequado perante o que posso e devo fazer.

Sugeri a mim mesmo: viva em uma arte, viva no bem estar.

A arte do bem viver é insegura, insana. A mediocridade me segura pela mão quente e acolhedora. Quero o fio que falta para tecer meu álibi, meu pranto, meu libido. Quero a costura que me faz percorrer por terrenos esguios, sem que possa despir-me do véu, não promovendo minha carne crua a luz do farol norteador. E me perco!

Cheiro, escarro, dissolvo meu éter... A lucidez. Esqueço o que me levou a lembrar do que não, e por equivoco de algo, que minha capacidade soberba implica a entender, uniu meus entes. Estou a brotar. Desisto. Espero. Impulsionado, não tenho a grama tangível para segurar neste desfiladeiro.
Então, escapo da minha segurança. Confuso, ela eu encaro: a Vida.