sábado, 26 de abril de 2008

No guarda-roupas as espadas

Guardei as espadas.
Nunca fui de vingança! Contudo, choro a perda, que um sentido não sei dar.

Buscava as espadas
Para devolver as palavras perjuradas
Na boca da foice
Mas não era coragem, era medo.

Permaneci estático
Admirando o sentimento
Somente eu e o ódio
Meu eterno companheiro infeliz.

domingo, 20 de abril de 2008

Uma conversa e F. da Luz

Encontro-me com a certeza de que um objeto causa toda uma diferença na peregrinação da vida. Eu me sinto um maestro dela; tornar todas as artes parte do ser estrutura-se como um estigma para minha constituição.

Na execução de uma seqüência de tarefas, com o uso dos objetos transgressores do comportamento, a preguiça agarra toda uma vontade, sucumbindo à conclusão no entreposto da alegria do começo com o tédio do percurso término.


*Um boteco e F. da Luz*
O comentário feito


Eu já fiz curso de inglês, curso de francês, aulas de canto, curso de violão, curso de pandeiro, aulas de berimbal, aulas de palhaço, curso de desenho artístico, curso de cinema. Nunca concluí nada!

Nunca me tornei um especialista. Talvez eu seja isso mesmo: um mero degustador da vida.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sereia em tecidos vermelhos

Não era a areia. Não era a praia. Não era a água. Não era o sal. Não era o mar. Era o suspirar calejado da felicidade familiar.

Estávamos todos ali. Eu. O papai. A mamãe. A tia Belie. A prima Dora. Papai. Belie. A prima. Nós e a caixa térmica vermelha. Ela, que tão suplentemente protege do ambiente, mas não dos sedentos, as gélidas cervejas. Podia sentir. Via o gelo coberto pelo sol, fragmentando suas partículas, em uma bela valsa meticulosa.
Estávamos felizes. Éramos felizes. O engasgar me tomou. O sol agora era roxo, num limiar para o padecer diário. Margeava a vontade da distância. Só. Somente eu e ele. Mas só. A agonia resgata o ser. Tentei fugir. Tentei ser feliz. Mas a vontade era minha e a ela eu sabia calar.

Eis a areia. Eis os pés. Fez-se o andar e o ser se foi. Eis o mar. E os pés de ásperos passam a úmidos. O quente abarcar das águas atlânticas fez seu trabalho, polindo com seu tempero as solas de quem queria só uma conversa. Cá estávamos nós. Apenas eu e ele. O mar. A cobiça vigorou.

Permaneço no raso. Dos calcanhares sobe a procissão dos respingos salobros. Sinto a ânsia de mais um passo. Resguardo dez quinze avos da minha existência no oceano de ar. Mas o passo foi dado. E do tornozelo o mar - solícito como o temos - tragou toda a minha composição. Queria apenas uma conversa. E do mar fiz parte. Às suas entranhas eu era puxado. Guiava todo o meu entusiasmo para voltar a somente ouvi-lo e admirá-lo. Estava só. E ele me queria. Pronto para me entregar surge à imagem.

Primeiro vi uma rajada de cabelos negros a embaraçar tudo em volta. O resto do suntuoso corpo veio em seguida. Tudo era não identificável; uma harmoniosa baderna da bela. Constatei seus trajes rubros. Eu a vi por completo. Estava só. Eu, ele e ela. A imagem. Uma sereia em tecidos vermelhos.
O fôlego para voltar à tona despiu-se de seu olhar confuso. Encontrei o extrato da terra e no embate do ar com os pulmões pude sentir a delicada dor de viver. Estava feliz. Estávamos ali. Eu e ela regados por ele.

Não conseguia encará-la. Feliz. A idéia partiu dela. Geniosa como se apresenta, eu não quis refutar. “Temos que nivelar o mar”. A proposta se fez. E com o galho, que perpendicularmente transpassou defronte nossos corpos, eu me pus a empurrar os lotes de areia para a concavidade do mar. Um ferrenho esforço. Contemplava a felicidade.
O alerta partiu dela. Não compreendi. Estava vivo? “A ponta do galho está vibrando”. Fiquei confuso. Estava só. Eu e o galho.

Abri os olhos. Olhei o teto. Estava na cama. Onde se encontrava a ponta do galho estava meu celular a tocar. Não era ela. Não era a moça dos tecidos rubros. Estava só. Eu e as lembranças.