quarta-feira, 22 de julho de 2009

o cinema de cada um [primeira hora do filme "Cada Um Com Cinema"]

diante do letreiro do cinema chinês

sua grafia com bordas espessas

ponderando a linearidade dos temas

que seus signos resgatam.

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fuma seus últimos três cigarros

tempo suficiente para que o bebê cesse o choro

e a vida volte a rodar.

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a abelha pousa no palco

coberta pela anedota dos gatinhos e

suas damas

no tratar com as garras.

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a criança dorme no cinema vazio

a placa na bilheteria anuncia “sessão lotada”

o casal que goza de sua juventude pára

ao choro da moça

que questiona

se colorido ou

preto-e-branco

o filme deixado sem fim.

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Joana D’Arc expressa emoção

na tela virgem

e a v-ida se faz

é vi-vida.

domingo, 14 de junho de 2009

B-om da 6-feira



A História me pariu
Porque ela é uma puta.


***


Ela sorri para mim nos corredores
Mas não sou bacana
Eu só sei sofrer de amor.


***


Saudade não é um sofrer
por um passado que não volta
E sim, por um futuro próximo
que não acontecerá.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

caminho passageiro



olhar no que passou
e pergunto: “é agora?”
apenas lembrança
de um presente arrastado
para detrás
nas costas
de uma garotinha levada
nome e sobrenome
em um só:
memória.

se fora esperança
já não resgato -
toco, escuto,
tomo conta do que
é meu
e não me foi dado.

não roga por adeus
e fica
sem movimento
nem mesmo o tempo
desgasta.
pregada a marreta
por punhos de lã
no altar mais fundo
escondido da luz.

é imagem
cheiro
dor
de saudade.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Tarde no cinema

O tempo lá fora pára
E quando retorno tudo muda.
O que era dia se fez noite
Aquele que se encontrava calado
sai a rua para gritar.

Era tudo verdade
A mentira feita em quadros superpostos
Transformada a realidade
que abocanhara até o apagar das luzes.

Atiro fora as malfeitas dos sentidos
Enganadoras pelo puro fato de aceitar.
Doidivanas a um estribo novo
A cavalgar por terras que aprendi a deformar.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Amor na Manchúria

Na Manchúria comunista
Peço permissão ao patriarca,
Meu Estado
para falar de amor.
No estado ao qual me encontro
Enxerto o vácuo da tua boca
com minha língua
No empenho da caça
do cume de seu coração.

Prometo ser fiel
E amar o seu prazer
Na mentira noturna
Desveladora
de teu descanso solitário.
Todavia não te engano
Peço tua mão, teu braço, teu seio,
Teu orifício vaginal
Na veemência de que
não me cobrarás
As flores e o telegrama
no final.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Embarque

Notificaram
estava confirmado
Era Brasília
às duas da manhã saía seu aéreo.
Leva meu disco de Sá
não acato a certeza
Bravo hei de buscar
Roberta
mostrou nossa afinidade
sonora que reconstrói o que não havia.
Gosto da mentira boa
que faz jus a superar tua ausência.
Sou justo
E as cartas que não enviarei
ficarão trancadas na gaveta que nunca verás.
Pois me espera lá
acolá
Onde é tua nova casa
E esteja feliz com a distância
Triste com os que te amam.